segunda-feira, 10 de maio de 2010

Livro da semana...

A TRÉGUA

MARIO BENEDETTI

L&PM POCKET 660

UM GRANDE AMOR PODE SER UMA TRÉGUA NA VIDA



Martín Santomé é um viúvo com três filhos adultos com os quais tem uma relação acidentada. Está prestes a se aposentar, após anos exercendo um trabalho burocrático e rotineiro em uma firma comercial - um de seus poucos orgulhos como funcionário é a caligrafia cuidadosa com que faz anotações nos livros da empresa. Letargiado em uma vida comezinha, cinzenta e sem alegria, Santomé pergunta-se o que fará quando se aposentar. Aprender a tocar um instrumento, talvez? A sua existência é alterada quando ele conhece Laura Avellaneda, uma bela e encantadora jovem que parece prometer toda a vitalidade que falta a Santomé: Será Avellaneda realmente uma redenção, ou apenas uma trégua?

Publicado em 1960, A trégua é a mais importante narrativa do escritor uruguaio Mario Benedetti (1920 - ) e uma das obras-primas da literatura latino-americana do século XX. Escrito no formato de diário pessoal e repleto de uma finíssima ironia, retrata de maneira pungente a vida inócua e sem perspectivas dos grandes centros urbanos, bem como a luta perdida contra a solidão e a inexorável passagem do tempo. Um livro atual e definitivo.




Trecho do livro:
(página 24)


"Domingo, 17 de março


Se alguma vez me suicidar, será em um domingo. É o dia mais desalentador, o mais insosso. Gostaria de ficar na cama até mais tarde, ao menos até as nove ou dez, mas me acordo sozinho às seis e meia e já não consigo pregar os olhos. Às vezes penso no que farei quando minha vida toda for um domingo. Quem sabe, talvez me acostume a despertar às dez. Fui almoçar no Centro, porque os meninos foram passar o fim de semana fora, cada um para seu lado. Comi sozinho. Não me senti sequer capaz de entabular com o garçom o recorrente e tradicional intercâmbio de opiniões sobre o calor e os turistas. Duas mesas adiante, havia outro solitário. Tinha o cenho franzido, partia os pãezinhos com golpes duros. Duas ou três vezes o olhei, e em uma oportunidade nossos olhares se cruzaram. Creio ter visto ódio ali. O que haveria para ele nos meus olhos? Deve ser uma regra geral que nós, solitários, não simpatizemos uns com os outros. Ou será que simplesmente somos antipáticos.


Voltei para casa, tirei uma sesta e me levantei pesado, de mau humor. Tomei alguns mates e me cansou o amargor da bebida. Então me vesti e fui outra vez para o Centro. Desta vez me meti em um café; consegui uma mesa junto à janela. Em um lapso de uma hora e quinze minutos, passaram exatemente trinta e cinco mulheres interessantes. Para me entreter, fiz uma estatística sobre o que me agradava mais em cada uma delas. Registrei os dados em um guardanapo de papel. Eis o resultado. De duas, agradou-me mais o rosto; de quatro, a cabelo; de seis, o busto; de oito, as pernas; de quinze, o traseiro. Ampla vitória dos traseiros."

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